Antes de começar, algo deve
ser esclarecido. Existem duas “grandes” interpretações da profecia de Daniel: A
tradicional, que envolve os Macabeus, e a do Juízo Investigativo. Eu argumento
que a do Juízo Investigativo não tem suporte algum da Bíblia, e até mesmo a
parte dos 2300 tardes e manhãs é completamente equivocada na interpretação.
Agora, onde eu vi, os
adventistas debatedores da internet pensam que “eliminando” a interpretação
tradicional, a deles se torna automaticamente correta. Assim colocando os
outros cristãos em um dilema. Porem, isso é um falso dilema. Pode muito bem
existir uma outra interpretação que não conhecemos.
É importante ter como “background”
que toda a doutrina do Juízo Investigativo (JI) começou por causa de um erro.
Um erro conhecido como “Grande Desapontamento”. Quando viram que a profecia de
que Jesus viria em 4 de outubro de 1844 falhou, a forma de salvar a
interpretação errada da profecia foi dizendo que “o fim do mundo não chegou,
mas o grande juízo começou”. De fato, quando Ellen White teve sua visão a
respeito disso, ela disse que o anjo que mostrou o livro pra Daniel colocou “a
mão em cima do livro” e, assim, ele não pode ver toda a informação.
Deixemos Ellen White explicar
a doutrina do Juízo Investigativo:
Assistido
por anjos celestiais, nosso grande Sumo Sacerdote entra no lugar santíssimo, e
ali comparece à presença de Deus a fim de Se entregar aos últimos atos de Seu
ministério em prol do homem, a saber: realizar a obra do juízo de investigação
e fazer expiação por todos os que se verificarem com direito aos benefícios da
mesma.[Ellen White, “O Grande Conflito”, p. 418]
...no
grande dia da expiação final e do juízo de investigação, os únicos casos a
serem considerados são os do povo professo de Deus. O julgamento dos ímpios
constitui obra distinta e separada, e ocorre em ocasião posterior. [Idem, p.
419]
Ao
abrirem-se os livros de registro no juízo, é passada em revista perante Deus a
vida de todos os que creram em Jesus. Começando pelos que primeiro viveram na
Terra, nosso Advogado apresenta os casos de cada geração sucessiva, finalizando
com os vivos. Todo nome é mencionado, cada caso minuciosamente investigado.
Aceitam-se nomes, e rejeitam-se nomes. [Idem, p. 421]
No tempo
indicado para o juízo — o final dos 2.300 dias, em 1844 — iniciou-se a obra de
investigação e apagamento dos pecados. Todos os que já professaram o nome de
Cristo serão submetidos àquele exame minucioso. Tanto os vivos como os mortos
devem ser julgados “pelas coisas escritas nos livros, segundo as suas obras.”
[Idem, p. 423-424]
Embora
todas as nações devam passar em juízo perante Deus, examinará Ele o caso de
cada indivíduo, com um exame tão íntimo e penetrante como se não houvesse outro
ser na Terra. Cada um deve ser provado, e achado sem mancha ou ruga, ou coisa
semelhante. [Idem, p. 427]
“O
Julgamento esta acontecendo no santuário la em cima. Faz quarenta anos que essa
obra esta em progresso. Em breve – ninguém sabe o quão breve – vai passar para
os casos dos vivos.” [Ellen, White, The Great Controversy, edição de 1884, p.
315 (Não encontrei esse paragrafo na edição atual, mas achei nessa antiga e
traduzi. Então a tradução foi minha mesmo)]
O texto da Bíblia (o único, na
verdade), pra dar suporte a essa crença é Daniel 8:14, que diz:
Depois ouvi
um santo que falava; e disse outro santo àquele que falava: Até quando durará a
visão do sacrifício contínuo, e da transgressão assoladora, para que sejam
entregues o santuário e o exército, a fim de serem pisados?
E ele me
disse: Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado.
E aconteceu
que, havendo eu, Daniel, tido a visão, procurei o significado, e eis que se
apresen- tou diante de mim como que uma semelhança de homem.
Daniel
8:13-15
A doutrina do Juízo
Investigativo diz que essas 2300 tardes e manhãs, baseando-se em Gênesis, são
dias, que na verdade são anos. E aqui esta o primeiro problema: Essa
interpretação é inteiramente Ad Hoc.
“Ad Hoc” é um termo usado para
designar uma teoria que faz varias suposições, apenas pra salvar um fenômeno.
Por exemplo, a maioria dos historiadores concorda que a tumba de Jesus foi
encontrada vazia, que ele foi visto vivo após sua morte e que os discípulos começaram
a crer fortemente em sua ressurreição, mesmo tendo toda predisposição para o
contrario. A melhor explicação para esses fatos é a de que Jesus ressuscitou
dos mortos.
Porem, alguns não gostam dessa
explicação, e então fazem teorias ad hoc. Por exemplo, um historiador ateu
criou a teoria de que Jesus nasceu com um irmão gêmeo, que desapareceu logo no
inicio de sua vida, e depois que Jesus morreu na cruz esse irmão reapareceu e
os discípulos e a própria família de Jesus confundiram esse irmão com ele e
proclamaram sua ressurreição.
No caso do Juízo
investigativo, deve-se supor que as palavras “tarde” e “manhã” (no hebraico,
escritos como “ereb-boqer”) signifiquem, sem justificativa, “dias” de 24 horas.
“Mas espera ai! Isso ainda não satisfaz nossa teoria!”, então supõem que esses “dias
de 24 horas” sejam, na verdade, “anos”.
Um segundo problema é que não
é verdade que toda vez que a Bíblia usa “tarde” e “manhã”, se refira a um período
de 24 horas. Existem passagens que usam “ereb” e “boqer” para se referir ao
inicio a ao fim de um período:
“E os que
habitam nos fins da terra temem os teus sinais; tu fazes alegres as saídas da
manhã e da tarde.” - Salmos 65:8
“Farta-nos
de madrugada com a tua benignidade, para que nos regozijemos, e nos alegremos
todos os nossos dias.” - Salmos 90:14
Por fim, nem mesmo as
passagens de Gênesis podem ser usadas de base para dizer que “ereb-boqer” são
dias de 24h (que na verdade são anos). Isso por dois motivos: Primeiro,
enquanto em Daniel 8:14 esta escrito “ereb-boqer”, em Gênesis esta escrito “vayhiy
ereb vayhiy boqer”. A diferença é que a tradução literal de cada uma ficaria
assim:
“tardes-manhãs”
– Daniel 8:14
“E
passou-se uma tarde e passou-se uma manhã” – Gênesis 1
O sentido é totalmente diferente.
Essas “tardes e manhãs” de Gênesis podem ser uma tarde de um dia e manhã de
outro. Não há nada no texto que restrinja a um período de 24 horas.
Segundo, de fato, vemos no
próprio texto de Gênesis que esses dias não são de 24 horas. Veja os eventos do
sexto dia:
- Deus planta o jardim (não
“cria” o jardim)
- Deus forma os animais da
terra (o método usado para a formação é desconhecido)
- Deus forma o homem (o método
também é desconhecido)
- Deus da ordens ao homem
- Deus leva a Adão mais de 15
mil animais para serem nomeados (sem contar, na visão de criação recente, os do
registro fóssil)
- Deus faz Adão dormir
- Deus tira uma costela de
Adão
- Deus “constrói” Eva
- Adão acorda e diz “hapa’am”
(finalmente), uma palavra que só é usada depois de longos períodos de espera.
Então, podemos concluir que
nem mesmo os dias de Gênesis podem servir de base para se dizer que “tardes-manhãs”
sejam dias de 24 horas.
Podemos concluir então que: A
interpretação das tardes-manhãs-dias-anos é ad hoc e não existe motivo pra se
crer que as tardes e manhãs sejam dias de 24h.